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  • Foto do escritorAlessandro Santana

Rasgando dinheiro Público

Precisamos construir alianças positivas em prol de uma Matriz de Transporte mais eficiente. Imagem: Jornal O Globo (28/12/17)



Infelizmente, mais uma vez, perdemos o bonde da modernidade. É impressionante como fomos da euforia e da oportunidade ímpar de transformarmos positivamente a nossa metrópole, para amarga e permanente sensação de impotência, frente à nossa triste sina de atraso e abandono.


Era tempo de Copa de Mundo, de Olimpíadas, enfim, de grandes eventos, e o Rio de Janeiro no foco de tudo que estava acontecendo. Era a nossa chance de nos tornarmos uma grande metrópole e implementarmos uma matriz de transporte robusta e consistente, nos mesmos moldes das grandes capitais de primeiro mundo.


Na Academia, nossos Professores insistentemente nos ensinavam que a integração é a chave do sucesso em todo sistema de transporte, e que a mesma deveria ser feita de forma plena, tanto do ponto de vista físico, quanto do operacional e institucional.

Ou seja, estávamos nesse caminho! O bilhete único era a mola propulsora e o fio condutor para que, de fato, o tão sofrido “usuário” pudesse, enfim, fazer as sonhadas transferências, sem o alto custo das passagens.


Vivíamos épocas de ouro no transporte público de passageiros na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com sistemas de massa como os trens urbanos e o metrô se integrando para valer em duas belíssimas estações de integração metroferroviárias, construídas especificamente para essa finalidade: Maracanã e São Cristóvão.


O “bonde” havia voltado de forma fenomenal, totalmente modernizado e transformador da geografia de uma cidade que se reinventava e que se propunha a colocar o cidadão como foco do espaço urbano, resgatando o Centro ao pedestre e contribuindo para a cidade ganhar um novo status de avanço e modernidade. Enfim, o Rio de Janeiro adquiria o seu passaporte para o sonhado padrão mundial de qualidade.


Esse era o grande legado dos eventos para o Rio de Janeiro. A consolidação de uma matriz de transporte integrada, tendo ainda em evidência um sistema de transporte genuinamente brasileiro e que traria a contribuição das grandes empresas de ônibus do Rio de Janeiro, através de quatro corredores exclusivos para ônibus articulados, em inglês: “BRT – Bus Rapid Transit”, que de forma nunca antes pensada, se conectariam aos sistemas ferroviários e metroviários em algumas estações chaves.


No entanto, passados os jogos, veio a conta salgada da corrupção e da impunidade, que acabou deteriorando, aos poucos, os frágeis e difíceis avanços adquiridos pela insipiente integração entre os grandes sistemas existentes. Faltou visão política e acima de tudo a consciência de que, sem a contínua ação do Estado para viabilizar a integração, tudo poderia estar perdido, pois interesses individuais poderiam colocar em risco o interesse da coletividade.


Em crise financeira, o Estado limitou o alcance do Bilhete Único e, ao mesmo tempo, para sobreviver e garantir o pagamento mínimo aos seus servidores, deixou de lado a sua função esperada de condução para que esse fim pudesse ser alcançado. Falta-nos uma verdadeira Agência que promova a integração entre os sistemas, garantindo-se o planejamento e a consolidação dessa matriz de transporte.


Por outro lado, a Prefeitura do Rio de Janeiro, que ao brigar com a Federação de Transporte do Rio de Janeiro, acabou gerando, de forma inversa, mais desequilíbrio ao frágil sistema já existente, abrindo-se brecha ao retorno do transporte clandestino e a degradação de todo sistema construído recentemente.


O abandono e a falta de segurança não podem ser utilizados como “castigo” às empresas de ônibus, cuja receita é adquirida pela tarifa de transporte. Sem receita não há cobertura dos custos operacionais e sem esta não há, por conta das empresas, garantia de pagamento dos salários de seus funcionários.


Portanto, o pagamento de passagem é importante para a manutenção da tão difícil equação advinda do equilíbrio econômico e financeiro dos contratos. A garantia desse item é vital para a geração de empregos e investimentos nesse setor muito importante e responsável pela garantia do direito fundamental de “ir e vir” dos cidadãos.


Assim, o sinal de alerta foi aceso hoje! Precisamos de forma consciente entender que as empresas do setor cumprem uma função social que vai muito além da cobrança da passagem. Se há algum desequilíbrio, a Sociedade de forma madura e democrática precisa discutir o assunto, mas sem a velha retórica de transformar o empresário como o vilão de todas as mazelas do sistema.


Por fim, o usuário também tem a sua responsabilidade, cuidando do sistema e garantindo a manutenção dos equipamentos, visando à utilização dos mesmos para o máximo número de pessoas possíveis, pois todo investimento em sistemas de transportes é muito caro, cabendo a todos nós o cuidado necessário para que os mesmos possam cumprir a sua função social e garantir a equidade em todos os deslocamentos em nossas cidades, independentemente de renda ou condição social.



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