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  • Foto do escritorAlessandro Santana

Rio de União


O Rio de Janeiro já foi Capital do Brasil e por aqui transitaram reis, presidentes, autoridades e altas personalidades de nossa sociedade e do mundo, mas o tempo passou e pela mão do presidente Juscelino Kubitsheck deixamos de ser a pérola, a jóia mais rara da União, cuja presença física e simbólica ainda se encontra em cada esquina e em cada gesto de sua gente, o que representa a História de uma nação, O Rio que era a União (país).

Naquela época, vivíamos os anos 50 e 60, tempo de modernidade e de mudanças estruturais na nossa sociedade. Entregamos o comando a esse presidente que prometeu fazer 50 anos em 5. Dito e feito! Viabilizamos a instalação no país de grandes empresas montadoras de veículos e abrimos estradas, no esforço para se tornar acessível a nova Capital, que tinha como função proporcionar a união do país, com melhores oportunidades para todos.

Assim, a nossa jovem Capital foi inaugurada em 21 de abril de 1960, cumprindo a sua função de interiorização do povoamento do país e de proteção nacional frente a qualquer tipo de invasão imaginada naquela época. De fato, a jovem Capital cumpriu com a sua missão, o país abriu estradas e proporcionou o deslocamento de um grande contingente populacional do Norte e do Nordeste e induziu a tão sonhada ocupação do território, notavelmente no Centro-Oeste, aproximando o Poder da União a todas regiões.

No entanto, não só de benefícios a inauguração da nova Capital nos proporcionou. O modelo de desenvolvimento adotado foi fortemente baseado na expansão da indústria automobilística, o que fez com que todos os esforços fossem canalizados para novas estradas de rodagem, ou seja, priorização do transporte rodoviário, em detrimento das nossas estradas ferroviárias já existentes, o que nos traz um problema logístico nos dias de hoje, já que 58% de toda carga desse país é transportada pelo modal rodoviário, sem falar do desmonte do modal ferroviário nos grandes centros urbanos, como ocorrido com os bondes no Rio de Janeiro. Seria esse o preço da modernidade?

Outro fator que precisa ser trazido para reflexão foi o custo para a construção da nova Capital. Não que a mesma não fosse o desejo da Nação e necessária até para a autoafirmação de nossa identidade, mas há de se convir que a mudança da mesma, além de trazer um alto custo para implantação de toda a infra-estrutura, trouxe um deslocamento do Poder para longe dos grandes centros e também do “calor” e da pressão dos movimentos populares. E por último, e muito mais impactante, o deslocamento desse Poder trouxe para o antigo Distrito Federal, a cidade do Rio de Janeiro, um vazio que deixou atônita a “elite carioca”, acostumada a participar das decisões do país e de questões de relevância nacional.

Assim, por plebiscito, o povo do antigo Distrito Federal, os Cariocas, moradores da cidade do Rio de Janeiro, escolheram pela manutenção do território (cidade) como um novo Estado, o Estado da Guanabara, que perdurou por 15 anos, de 1960 até o dia 15 de março de 1975, quando por decisão federal, esse novo Estado (Guanabara) foi unificado (fusão) ao então Estado do Rio de Janeiro, sempre existente durante os tempos áureos de Capital da República.

Portanto, por decreto temos agora, após 42 anos de existência, dois entes Federativos que se complementam mas que se estranham mutuamente, o primeiro, que já fora Capital da República e depois Estado autônomo, com uma renda per capita superior e padrão de vida na mesma proporção, podendo assim ser definido como o “primo rico” e outro, com as suas mazelas e menor economia, o “primo pobre”, muito aquém do poderio da antiga Capital da República, que sempre existiu e que agora se subordinaria ao comando de sua nova capital.

Muitos acreditam que essa medida foi arbitrária e tomada como retaliação à oposição da “elite carioca” ao modelo político da “época de chumbo”, cujo poder se encontrava nas mãos de militares. Assim, temos agora um grande desafio pela frente: unificarmos dois Entes Federativos, esses dois “primos”, agora sob uma única bandeira e sob o desafio de se desenvolverem, mutuamente, em benefício do novo Estado do Rio de Janeiro.

No entanto, nem tudo foram e são flores. A fusão na verdade trouxe aos dois, além de uma desconfiança mútua, um esvaziamento econômico desse novo Estado, que sentiu talvez o efeito da migração de muitas empresas e também a ausência dos empregos perdidos, já imaginado de acontecer com a transferência da Capital para muito além do território. A perda do status e o distanciamento do Poder nos trouxe um problema difícil de se resolver.

Dessa forma, em pleno século XXI as diferenças precisam ser postas de lado e os dois precisam compreender que o sucesso de um dependerá da ascensão do outro. Portanto, a Capital do Estado precisa reconhecer o seu novo território e o Interior, por sua vez, necessita enxergar em sua Capital a liderança necessária para alavancar o tão esperado crescimento e desenvolvimento econômico desejado.

Enfim, a união urge nesse momento e um novo território precisa ser construído e consolidado, agora a dois, com foco na sua gente e nos problemas regionais. Não que o país tenha saído de nosso foco, muito pelo contrário, mas agora é tempo de reconstruir esse novo Estado, que obtivemos como legado, com suas potencialidades e virtudes, que precisam ser lembradas e comemoradas pelos cariocas e fluminenses, que unidos, farão agora a sua própria História, mediante um novo tempo e de um novo espaço, que contemple um Rio de União.


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